Mogo Não Socializa #11
Uma newsletter sobre gibis, pais ausentes em gibis e falar pra sua esposa que não conta como traição porque aconteceu num ambiente telepático criado pela sua amante
Alguns grandes vacilos cometidos por Scott Summers em sua trajetória nas HQs
Com o sucesso avassalador de X-Men 97, não apenas uma das grandes animações baseadas em HQs já produzidas, mas também uma das adaptações mais bem feitas realizadas pela Marvel e, ouso admitir, uma das melhores coisas que aconteceram na minha vida nesses últimos tempos, um personagem que finalmente recebeu o devido destaque foi ele, o mais tradicional dos líderes da equipe mutante: Ciclope.
Parte da primeira geração dos X-Men e um dos principais integrantes do grupo nos gibis, Scott Summers teve uma jornada bem mais complicada nas telas, principalmente nos cinemas. Isso porque se nas animações seu papel tinha sim algum destaque, em produções como “X-Men 92” e “X-Men Evolution”, na tela grande o personagem foi, ou utilizado como escada para outros personagens, como na trilogia original da Fox, em que o personagem de James Marsden basicamente existia apenas para que o personagem de Hugh Jackman parecesse mais legal; ou absolutamente subaproveitado, como aconteceu com a versão de Tye Sheridan, que basicamente, bem, ele estava lá, se o filme fosse uma aula de faculdade ele teria assinado presença sim.
Mas se a trajetória do personagem nas outras mídias ainda deixa a desejar - a não ser no jogo Marvel x Capcom, em que ele é apenas excelente - a história do personagem no gibi é uma das mais ricas e complexas possíveis. Scott Summers foi abandonado pelo pai, encontrou irmão, perdeu irmão, morreu, voltou da morte, viajou pro futuro, reencontrou seu eu do passado, liderou os X-Men, perdeu a liderança dos X-Men, trocou de esposa, voltou pra esposa, ficou viúvo, deixou de ser viúvo, matou gente, teve neto, comandou milícia.
Eu tentei, não ser moleque com você eu tentei, mas quem não erra em Uncanny X-Men #126?
E são duas as coisas em que Ciclope mais se destacou em sua trajetória nas HQs. A primeira é liderar os X-men. Como primeiro aluno do Instituto Xavier para Jovens Superdotados, Scott Summers foi também o primeiro líder da equipe e aquele que passou mais tempo na posição, sendo até hoje considerado a maior liderança de campo que a equipe já teve, indo desde o jovem idealista que buscava o sonho de convivência pacífica de seu mentor até um adulto mais violento e incisivo quando os crimes de ódio contra os mutantes se tornaram mais graves.
Já a segunda coisa que o principal membro da família Summers mais faz? Bem, essa coisa é vacilar. Uma espécie de Chico Moedas do universo Marvel, Ciclope está constantemente tentando não ser moleque, mas falha com uma frequência extremamente alta, trocando toda a competência e eficiência que demonstra no campo de batalha por uma imensa tendência à tomar decisões absolutamente questionáveis, irresponsáveis e profundamente mirins quando se trata da sua vida pessoal e familiar.
Na newsletter de hoje iremos abordar alguns desses grandes momentos da trajetória pessoal de Scott Summers, alguns já adaptados para outras mídias, outros que sinceramente eu duvido que alguém algum dia adapte porque ficaria até um clima estranho pra galera que está assistindo.
Abandonou a família (mais de uma vez)
Daí que Jean Grey havia morrido e todo mundo estava muito impactado, porque era a primeira vez que isso acontecia e ninguém sabia que aquilo ainda iria se repetir, por baixo, mais umas quatro vezes. Scott Summers, em luto, abandonou os X-Men, e como acontece nesse tipo de situação, foi para o Alaska, onde encontrou uma mulher que era exatamente igual a sua falecida esposa, uma situação absolutamente normal e que não levantou nenhuma suspeita em um homem que tinha como rotina lidar com ameaças alienígenas, tecnológicas e até mesmo sobrenaturais.
Scott então se apaixonou por essa mulher, Madelyne Pryor, cumpriu o protocolo de perguntar "ei, você é a reencarnação da minha esposa falecida?" e após ela dar um socão nele e responder que não, não era, floresceu então um romance que levou ao casamento. E logo após se casar, engravidar sua esposa e dar início ao que poderia ser uma vida tranquila com a mulher que amava, qual foi o primeiro pensamento do grande Scott Summers? "Bem, acho que é hora de voltar pros X-Men!" (ok que durante esse período o Professor Xavier, outro campeão do bom senso, havia abandonado os X-Men pra namorar mulher pássaro e deixado a equipe nas mãos do Magneto, mas ainda assim)
E Scott Summers, é claro, não poderia apenas voltar pros X-Men. Ele precisava liderar os X-Men. Mas ao buscar retomar seu espaço no time ele se vê envolvido num duelo com Tempestade, que havia escutado as lamentações de Madelyne e decidido que precisava fazer sua parte para que o colega desse a devida atenção para sua família. E provando que muitas vezes o não a gente já tem, mas precisa heroicamente ir em busca da humilhação, Ciclope, usando seus poderes, perde o duelo para Tempestade dentro de um ambiente fechado, com ela sem poderes, e é basicamente obrigado a retornar, um bocado constrangido, para o seio de sua família.
Porém, da mesma maneira que Emma Frost pode ler mentes mas também se transformar em diamante e Fera tem agilidade sobre-humana mas depois também desenvolveu aparência felina, a verdadeira mutação secundária de Scott Summers é sim o abandono parental. Isso porque diante da informação de que a verdadeira Jean Grey estava viva, Ciclope não apenas abandonou sua esposa Madelyne e seu filho Nathan para encontrar sua ex-falecida-esposa como ingressou com ela na equipe X-Factor, não avisou pra ela que tinha se casado ou tido filhos e também não fez contato algum com Madelyne, nem pra dizer um "rapaz, aconteceu um negócio complicado aqui no trabalho e vou demorar".
O famoso "papai saiu dizendo que ia só combater um Magneto e nunca mais voltou".
Teve um caso telepático com a Emma Frost
Ainda que a vida pessoal de Scott esteja intrinsecamente ligada a de sua principal parceira, Jean Grey, ela não foi seu único interesse romântico, mesmo se ignorarmos a já citada Madelyne Pryor, sua clone com quem Ciclope chegou a casar e ter um filho - que mais tarde contrairia um vírus tecnorgânico, seria enviado para o futuro, e voltaria como adulto, pra ser assassinado por sua versão mais jovem, que precisou então viajar para o futuro, sendo substituída por sua versão adulta, porque nada pode ser remotamente fácil quando você está falando da família Summers.
Um exemplo é Coleen Wing, com quem Ciclope se envolveu brevemente durante outro período em que Jean Grey parecia estar morta - é algo que ela faz bastante - chegando a receber uma cópia da chave seu apartamento, mas obviamente sumindo sem deixar sinal assim que soube que Jean estava viva, porque é isso que o Scott faz.
Temos também Betsy Braddock, a mutante telepata e psiônica conhecida como Psyclock, integrante dos X-Men com quem Scott flertou durante um certo período, enquanto ainda era casado com Jean, chegando a usar sua famosa tática de "acho que vou abandonar os X-Men para depois voltar para os X-Men" quando as coisas começaram a ficar realmente esquisitas.
Mas o grande destaque realmente vai para seu relacionamento com Emma Frost, outra telepata da equipe, com quem ele teve um "caso psíquico", praticando de maneira profundamente literal o chamado "amor por telepatia", enquanto não apenas ainda era casado com Jean Grey como ela fazia parte da equipe, numa espécie de banheiro astral do Galeto Sat's. O resultado? Foi pego no flagra, abandonou de novo os X-Men, começou a namorar a Emma Frost, voltou de novo pros X-Men, a Jean morreu de novo, a Jean voltou de novo, ele voltou com a Jean.
Matou o professor Xavier
Mas claro que quando se fala de vacilar nas relações interpessoais, não estamos falando apenas de relacionamentos amorosos. Ciclope vacilou ao reformar o grupo X-Force, dar pra ele carta branca pra matar e colocar como integrantes X-23, uma mutante que havia sido treinada para matar e estava tentando fugir dessa programação e também Lupina, que pode se transformar numa furiosa forma de lobo mas é na verdade uma jovem católica bem gente boa que se sente absurdamente culpada com coisas assim.
Teve a vez em que ele expulsou o Professor Xavier da Mansão, mas em sua defesa não apenas Scott havia acabado de descobrir que o careca havia apagado sua mente pra que ele esquecesse que tinha um outro irmão que havia morrido numa missão com os X-Men (ooops) como sinceramente, Charles não é um cara que facilita qualquer tipo de relacionamento - exceto se você for uma mulher-pássaro.
Mas ainda assim o fato dele ter, alguns anos depois, matado o Professor Xavier é sim um lance um pouco exagerado e que mostra que talvez Scott Summers não saiba lidar muito bem com certas situações.
Ele estava possuído pela entidade Fênix, a mesma que já havia feito Jean Grey cometer genocídio espacial varrendo do mapa toda uma espécie alienígena? Sim. Na cabeça dele ele estava tentando salvar toda a espécie de mutante de desaparecer da face da Terra? Também. Charles Xavier com frequência é uma espécie de Leandro Karnal que apaga a mente dos outros por qualquer bobagem, esquema te pedi dinheiro, você veio me cobrar, apaguei sete anos da sua vida da sua memória pra você esquecer? Com certeza.
Ainda assim assassinar o próprio mentor na frente da galera toda não foi exatamente uma grande decisão e pra alguém que exerce um cargo de liderança, demonstra uma certa dificuldade pra resolver conflitos de maneira pacífica. Digamos que a comunicação não-violenta não venceu nesse dia. Mas obviamente depois o Xavier voltou, então até que tá tudo bem nesse aspecto.